terça-feira, 27 de setembro de 2016

AGRESTES MARIANNE MOORE

Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na selecção dessas coisas
não haverá um falar de mim?

Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indirecta confissão.
pelo avesso, e sempre impudor?

A coisa de que se falar
até onde está pura ou impura?
Ou sempre se impõe, mesmo
impuramente, a quem dela quer falar?

Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é uma forma de falar da coisa?

- Dúvidas apócrifas de Marianne Moore, in "Agrestes".

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