sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

CLARISSE LISPECTOR --- tER AMIGOS É NECESSÁRIO!!!


Compreendi que viver é ser livre. Que ter amigos é necessário. Que lutar é manter-se vivo. Que para ser feliz basta querer.
Aprendi que o tempo cura. Que mágoa passa. Que decepção não mata. Que hoje é reflexo de ontem. Compreendi que podemos chorar sem derramar lágrimas. Que um verdadeiro amigo permanece. Que dor fortalece. Que vencer engrandece.
Aprendi que sonhar não é fantasiar. Que para sorrir tem que se fazer alguém sorrir. Que a beleza não está no que vemos, e sim no que sentimos. Que o valor está na força da conquista.
Compreendi que as palavras têm força. Que fazer é melhor que falar. Que o olhar não mente. Que viver é aprender com os erros. Aprendi que tudo depende da vontade. Que o melhor é ser nós mesmos. Que o segredo da vida é viver!
E uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida.
(Clarice Lispector)

domingo, 3 de dezembro de 2017

MIGUEL TORGA --- RECOMEÇA

Recomeça ...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças !
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças ...
Miguel TorgA

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

David Mourão Ferreira --- Era uma noite apressada....

Noite Apressada

Era uma noite apressada 
depois de um dia tão lento. 
Era uma rosa encarnada 
aberta nesse momento. 
Era uma boca fechada 
sob a mordaça de um lenço. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso! 

Imensa, a casa perdida 
no meio do vendaval; 
imensa, a linha da vida 
no seu desenho mortal; 
imensa, na despedida, 
a certeza do final. 

Era uma haste inclinada 
sob o capricho do vento. 
Era a minh'alma, dobrada, 
dentro do teu pensamento. 
Era uma igreja assaltada, 
mas que cheirava a incenso. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso! 

Imensa, a luz proibida 
no centro da catedral; 
imensa, a voz diluída 
além do bem e do mal; 
imensa, por toda a vida, 
uma descrença total! 

Luís Vaz de Camões --- Doces águas e claras do Mondego

Doces águas e claras do Mondego,
doce repouso de minha lembrança,
onde a comprida e pérfida esperança
longo tempo após si me trouxe cego;
de vós me aparto; mas, porém, não nego
que inda a memória longa, que me alcança,
me não deixa de vós fazer mudança,
mas quanto mais me alongo, mais me achego.
Bem pudera Fortuna este instrumento
d'alma levar por terra nova e estranha,
oferecido ao mar remoto e vento;
mas alma, que de cá vos acompanha,
nas asas do ligeiro pensamento,
para vós, águas, voa, e em vós se banha.
*Luís Vaz de Camões

domingo, 19 de novembro de 2017

CARLOS PIRES --- o LIVRO DAS PEQUENAS ORAÇÕES --- QUERO DIZER-TE COISAS

es .... Quero dizer-te coisas...

Quero dizer-te coisas
com palavras
que ainda não conheças
e nelas a tua vida caiba
numa flor nunca vista
ou numa ave secreta e rara
com letras desconhecidas

....
in "O Livro das Pequenas Orações" de Carlos Lopes Pires

sábado, 4 de novembro de 2017

José Gomes Ferreira ---- Quando nos sentimos cansados

Quando nos sentíssemos cansados,
fartos do mesmo sol,a fingir de novo todas as manhãs,
Convocaríamos todos os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o Ritual do Grande Desfazer:
"Fulano de tal comunica a Vª Excª que vai transformar-se
em nuvem hoje às 9h. Traje de passeio "
E então,solenemente,com poucos passos de reter tempo,
fatos escuros,olhos de lua de cerimónia
virámos todos assistir à despedida;
Apertos de mãos quentes
Ternura de calafrio.
" Adeus! Adeus ! "
E pouco a pouco,devagarinho,sem sofrimento
numa solidão de arrancar raízes
primeiro os olhos...em seguida os lábios...
depois os cabelos...a carne em vez de apodrecer
começaria a transformar-se em fumo
como aquela nuvem além,vêem?
Nesta tarde de Outono
Ainda tocada por um vento de lábios azuis...
José Gomes Ferreira,um dos meus poetas

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

João de Deus ---- Eu não ... eu sou quem fui

“Aqui jaz pó: eu não; eu sou quem fui,
- Raio animado dessa Luz celeste,
À qual a morte as almas restitue,
Restituindo à terra o pó que as veste.”
João de Deus

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MIA COUTO ---- A FLOR QUE ÉS

 FLOR QUE ÉS
A flor que és,
não a que possa comprar,
te venho oferecer.
Porque não tem preço
o que te ofereço.
E se me debruço a colher a pétala,
a terra inteira em teus dedos se desfolha.
E se a mais pura flor para ti desenho
a inteira pétala no nada se despenha.
Porque és a sombra do sonho em que anoiteço.
Morrer é ter terra finita.
E eu tenho a febre da inatingível margem.
Por isso encho de mar o teu olhar.
MIA COUTO

SOPHIA de MELLO BREYNER ANDRESEN----- ------ AS ROSAS

AS ROSAS
Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as espera       

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

CARLOS FRANQUINHO --- o PINHAL DO REI NÃO MORRE

"Amigos: o Pinhal do Rei não morreu como apregoam alguns. O Pinhal do Rei não são os pinheiros que o compõem. É muito mais que isso: são 700 anos de história, são memórias, são as dunas brancas, são as urzes, as camarinhas e os medronhos, são as nossas memórias e os passeios. Nada disso arde."


   CARLOS FRANQUINHO

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Afonso Lopes Vieira Pinhal do REI.... Catedral VERDE e SUSSURRANTE

PINHAL DO REI
Catedral verde e sussurrante, aonde
a luz se ameiga e se esconde
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
ditoso o "Lavrador" que a seu contento
por suas mãos semeou este jardim;
ditoso o Poeta que lançou ao vento
esta canção sem fim...
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
rei D. Dinis, bom poeta e mau marido,
lá vem as velidas bailar e cantar.
Encantado jardim da minha infância,
aonde a minh'alma aprendeu;
a música do Longe e o ritmo da Distância
que a tua voz marítima lhe deu;
místico órgão cujo além se esfuma
no além do Oceano, e onde a maresia
ameiga e dissolve em bruma,
e em penumbra de nave, a luz do dia.
Por estes fundos claustros gemem
os ais do Velho do Restelo...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
teus velhos troncos de saudades fremem...
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
são as caravelas, teu corpo cortado,
é lo verde pino no mar a boiar.
Pinhal de heróicas árvores tão belas,
foi do teu corpo e da tua alma também
que nasceram as nossas caravelas
ansiosas de todo o Além;
foste tu que lhe deste a tua carne em flor
e sobre os mares andaste navegando,
rodeando a terra e olhando os novos astros,
ó gótico Pinhal navegador,
em naus, erguida, levando
tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que grande saudade, que longo gemido
ondeia nos ramos, suspira no ar!
Na sussurrante e verde catedral
oiço rezar a alma de Portugal:
ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
sonâmbulos de surda ansiedade,
no roxo da tardinha,
abre a flor da Saudade;
ela aí vem, sozinha,
dorida do naufrágio e dos escolhos,
viúva de seus bens
e pálida de amor,
arribada de todos os aléns
de este mundo de dor;
ela aí vem, sozinha,
e reza a ladainha
na sussurrante catedral aonde
toda se espalha e esconde,
e aonde, ecoando a cantar,
se alonga e se prolonga a longa voz do mar.
Afonso Lopes Vieira

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Carlos Pires .... Quero dizer-te coisas...

Quero dizer-te coisas
com palavras
que ainda não conheças
e nelas a tua vida caiba
numa flor nunca vista
ou numa ave secreta e rara
com letras desconhecidas

....
in "O Livro das Pequenas Orações" de Carlos Lopes Pires

terça-feira, 3 de outubro de 2017

FLORBELA ESPANCA --- SE TU viesses ver-me hoje à tardinha...


SE TU VIESSES VER-ME HOJE À TARDINHA.....
.Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha, 
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Miguel Torga --- e saio, antes de entrar, de cada paraíso....


Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim – meu principal motivo
De insatisfação  –,
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.


MIGUEL TORGA

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

MIGUEL TORGA --- OUTONO

Outono
Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor 
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
Miguel Torga

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Marta Monteiro Oliveira ---- S: Pedro de Moel



S. Pedro de Moel

Hoje fui visitar-te. As saudades eram mais que muitas, estavas ali intacta como se estivesses à espera que eu voltasse. Sempre que penso em ti fico com borboletas na barriga e sempre que falo de ti enches-me de orgulho. Mas a verdade é que te deixamos sempre que o frio se aproxima e parece que nos esquecemos daquilo que és para nós, tenho medo que aches que não te levamos no coração. Eu levo, e sei que os melhores também. 
Mas sempre que voltamos tratas-nos bem, bem de mais. Recebes-nos com o teu cheiro a maresia que nos entra casa a dentro e nos faz sentir-te nos nossos pulmões, cada vez que inspiro parece que ganho 10 anos de vida. Fazes-nos bem, fazes-nos muito bem.
Hoje fui visitar-te e continuas a praia mais bonita de todas, é tão bom pensar que nunca vais mudar e que vais ser para sempre o melhor sítio do mundo. É bom ver que o mar continua gelado e turbulento, que os crepes com Nutella do Iceberg continuam quentinhos e saborosos, é bom ver que o farol continua a dar luz e que a cacimba ainda não parou de cair. Que o café do Sr. António continua a ser 1,5€, e que casmurro que ele é, e que os bifes do João ainda são de comer e chorar por mais. É bom ver-te assim. Obrigada por me dares certezas que daqui a uns anos vou poder partilhar um bocadinho de ti com os meus filhos, mostrar-lhes todos os teus recantos e todos os teus segredos.

Hoje fui visitar-te e senti que ainda gostas de mim...

Marta Monteiro Oliveira                   Nota  --  este texto  foi escrito pela Marta depois de uma visita a S. Pedro  a 20 de dezembro de 2016

David Mourão Ferreira ---- Era uma noite apressada

Era uma noite apressada 
depois de um dia tão lento. 
Era uma rosa encarnada 
aberta nesse momento. 
Era uma boca fechada 
sob a mordaça de um lenço. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso! 

Imensa, a casa perdida 
no meio do vendaval; 
imensa, a linha da vida 
no seu desenho mortal; 
imensa, na despedida, 
a certeza do final. 

Era uma haste inclinada 
sob o capricho do vento. 
Era a minh'alma, dobrada, 
dentro do teu pensamento. 
Era uma igreja assaltada, 
mas que cheirava a incenso. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso! 

Imensa, a luz proibida 
no centro da catedral; 
imensa, a voz diluída 
além do bem e do mal; 
imensa, por toda a vida, 
uma descrença total! 

MÁRIO ANDRADE --- VALIOSO TEMPO

ALIOSO TEMPO" ---- MÁRIO ANDRADE --
"Contei meus anos
E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente
Do que já vivi até agora
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
Cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo
Majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
Minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
Muito humana; que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge da sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
Oessencial faz a vida valer a pena "
Mário Andrade

TERROR DE TE AMAR SOPHIA de MELLO ANDRESEN

Terror de Te Amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo 

Mal de te amar neste lugar de imperfeição 
Onde tudo nos quebra e emudece 
Onde tudo nos mente e nos separa. 

Que nenhuma estrela queime o teu perfil 
Que nenhum deus se lembre do teu nome 
Que nem o vento passe onde tu passas. 

Para ti eu criarei um dia puro 
Livre como o vento e repetido 
Como o florir das ondas ordenadas. 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética” 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Mia Couto ..... OS EXCESSOS do meu IRMÃO

    Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
    Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.
    Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
    Depois a criança vem mostrar e...
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    Maria Helena Serrador partilhou uma memória.
    14 h
    Nani, Fernanda Sal Monteiro, aceitando o teu desafio passo a citar os 10 livros que, entre muitos outros, me proporcionaram muitas e muitas horas de encantament...
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    Eugénia Ferrari Deve estar frio.
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    José Nunes Sousa "Ibiscus maravilhosus"
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    ResponderOntem às 0:59
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    Maria Helena Serrador Obrigada !!!
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    Responder14 h
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    Agora mesmo... liiiindo!!!
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    Agorinha....... S.Pedro... lindíssimo...
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    Responder16/9 às 21:48
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    Maria José Franca Lindas, Lena. Beijinho.
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    Responder16/9 às 10:16
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    Maria Helena Serrador Cestá tudo bem contigo????
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    Responder16/9 às 10:21
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    Responder16/9 às 10:24
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    Fernanda Sal É das tuas ? Muito bonita.
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    Responder16/9 às 11:16
    Gerir
    Maria Helena Serrador Siiiim .... Única !!!...
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    Responder16/9 às 23:10
    Gerir
    (.........................
    Pudesse eu ser tu
    E em tua saudade ser a minha própria espera.
    Mas eu deito-me em teu leito ...
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    Maria Helena Albernaz Otto LINDO. Já tinha saudades dos teus belos poemas. 🌷💞😘
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    Responder13/9 às 23:11
    Gerir
    Maria Helena Albernaz Otto Que gostas de poesia já tinha percebido e é um bom e excelente gosto, que nem todos apreciam.
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    Responder13/9 às 23:16
    Gerir
    Maria Helena Serrador Cada um tem o seu gosto... mas se ouvires na antena 2 é difícil resistir... programa de Luís Caetano.... é muito BOOOM
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    Responder13/9 às 23:17
    Gerir
    Para explicar
    os excessos do meu irmão
    a minha mãe dizia:
    está na mudança de idade.
    Na altura,
    eu não tinha idade nenhuma
    e o tempo era todo meu.
    Despontavam borbulhas
    no rosto do meu irmão,
    eu morria de inveja
    enquanto me perguntava:
    em que idade a idade muda?
    Que vida,
    escondida de mim, vivia ele?
    Em que adiantada estação
    o tempo lhe vinha comer à mão?
    Na espera de recompensa,
    eu à lua pedia uma outra idade.
    Respondiam-me batuques
    mas vinham de longe,
    de onde já não chega o luar.
    Antes de dormirmos
    a mãe vinha esticar os lençóis
    que era um modo
    de beijar o nosso sono.
    Meu anjo, não durmas triste, pedia.
    E eu não sabia
    se era comigo que ela falava.
    A tristeza, dizia,
    é uma doença envergonhada.
    Não aprendas a gostar dessa doença.
    As suas palavras
    soavam mais longe
    que os tambores nocturnos.
    O que invejas, falava a mãe, não é a idade.
    É a vida
    para além do sonho.
    Idades mudaram-me,
    calaram-se tambores,
    na lua se anichou a materna voz.
    E eu já nada reclamo.
    Agora sei:
    apenas o amor nos rouba o tempo.
    E ainda hoje
    estico os lençóis
    antes de adormecer.
    MIA COUTO