segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

BALada ao Rio DOURO ---- Pedro Homem de MELLO

Que diz além, além entre montanhas,
O rio Doiro à tarde, quando passa?
Não há canções mais fundas, mais estranhas,
Que as desse rio estreito de água baça!...
Que diz ao vê-lo o rosto da cidade?
Ó ruas torturadas e compridas,
Que diz ao vê-lo o rosto da cidade
Onde as veias são ruas com mil vidas?...
Em seus olhos de pedra tão escuros
Que diz ao vê-lo a Sé, quase sombria?
E a tão negra muralha à luz do dia?
E as ameias partidas sobre os muros?
Vergam-se os arcos gastos da Ribeira...
Que triste e rouca a voz dos mercadores!...
Chegam barcos exaustos da fronteira
De velas velhas, já multicolores...
Sinos, caixões, mendigos, regimentos,
Mancham de luto o vulto da cidade...
Que diz o rio além? Por que não há-de
Trazer ao burgo novos pensamentos?
Que diz o rio além? Ávido, um grito
Surge, por trás das aparências calmas...
E o rio passa torturado, aflito,
Sulcando sempre o seu perfil nas almas!...

HOMEM de MELLO

1 comentário:

  1. Lena: A descrição do Rio Douro nestes versos de P.H.de MeLLO, corresponde inteiramente ao que te falei no outro comentário que coloquei:--"rio de água baça----um grito surge----o rio passa aflito---mancha de luto a cidade" etc, etc, tu viste o rio azul, sereno, que te encantou, mas há situações de inverno forte e chuvoso em que é medonho...eu tenho este Douro na minha memória...
    Beijinho, Lena
    Amiga Lurdes

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