sábado, 4 de dezembro de 2010

Poema de Florbela Espanca

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca



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2 comentários:

  1. Olá Lenita:
    Florbela Espanca, alentejana como eu...
    Nasceu em Vila Viçosa...e depois a sua história de vida é verdadeiramente dramática... aliás os seus poemas dizem isso mesmo...
    "E as lágrimas que choro...
    "Ninguém as vê brotar...
    "Ninguém as vê cair dentro de mim...
    Nunca se sentiu verdadeiramente amada...e a
    tristeza invadiu de mansinho a sua alma e acabou por desfalecer precocemente.
    Era uma mulher muito bela...muito inteligente
    e com grande sensibilidade artistica e cultur
    al.
    Obrigada por nos levar a recordar esta Poetisa...
    Mana

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  2. Agradeço muito MAna o seu comentário tão elucidativo e completo sobre a grande poetisa Florbela.

    A poesia é muito sofrida e testemunha bem a angústia em que sempre viveu; é o espelho da sua vida e Florbela sabe mostrar magistralmente o seu espírito em sofrimento.

    Beijinho MAna

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